Sophia - "Estranhos"

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

- Você não fala muito sobre você, né? – Perguntou Sophia.

Ficou um clima estranho no ar quando ela fez essa pergunta. Olhei para ela e de volta para a direção umas três vezes, enquanto nos levava à Faculdade. Gaguejei algumas palavras incompreensíveis que, se fosse eu ouvindo, acharia bem engraçado.

- Ih, perguntei algo errado? – Disse a garota, o que acabou por piorar meu estado.

Mas o que havia de tão errado na pergunta? O problema é que desde que a conheci, nada falei sobre mim. Fiquei até confuso por um momento, pois ao perceber isso reparei que no fim a garota estava andando por aí com um estranho.

Não, não era realmente verdade. O que estava se passando entre nós desde o dia anterior nos proporcionou uma aproximação praticamente diferente de qualquer outra. Nos sentíamos confortáveis na presença um do outro.

Então percebi que me perdi nos meus devaneios, pois havia se passado mais de um minuto que ela perguntou, e estava com um olhar de interrogação olhando pra mim.

- Desculpe... é que eu estava pensando em como somos estranhos um para o outro. – Acabei por responder sem pensar.
- Eu só não te conheço... mas sei que você é um cara legal... relaxa. – Respondeu a garota, o que me acalmou um tanto – E fica uma situação estranha, já que você sabe um bocado sobre mim. Só falamos sobre mim – Complementou com um fato.

Reparei que ela realmente estava interessada em me conhecer como pessoa. Eu estava despreparado pra isso, pois fazia um bom tempo que não falava sobre mim pra alguém. É fácil lidar com essas perguntas em situações sociais, mas quando é pessoal que o monstro aparece, com seus dentes afiados.

- Eu saí da casa dos meus pais à alguns anos... – Disse, sem saber ao certo por onde começar e se esse seria um bom começo - Não aguentava mais viver lá...
- O que havia de errado com eles? Te tratavam mal? – Me interrompeu, mas realmente interessada no assunto, o que até me deixou feliz.
- Não, pelo contrário... Eles me sufocavam. Eu sentia que eles se interessavam mais pela minha vida do que pelas deles.
- Apesar de nunca ter passado por isso eu te entendo... consigo ver isso acontecendo.
- Pois é... aí no fim das contas me convenci que sair de lá era algo bom.
- E foi?
- Sinceramente, eu não sei.
- Por que?
- Acho que só vivendo sozinho consegui ter uma noção de quem eu sou de verdade... apesar que acho que qualquer auto-descoberta é boa.
- Mas você se sentia solitário? Sabe, há diferença entre estar sozinho e se sentir sozinho.
- Eu era...
- E foi passageiro?
- Não... com o tempo a solidão acabou se transformando em outras sensações...

Ao falar disso vinham flashes na minha cabeça de como foi esse tempo. A grande sensação de se sentir sem propósito algum. Acabei por entender um pouco o porquê dos meus pais serem tão invasivos na minha vida.

- Me fale do seu trabalho! – Disse Sophia sorrindo, que depois segurou na minha mão ao volante e fez um carinho com o seu polegar, ao perceber que eu não me sentia bem falando sobre aquilo. Essa sua sensibilidade incrível me fez olhar pra ela e sorrir por um momento.
- Ah, meu trabalho é normal. E ganho relativamente bem.
- Tem amigos por lá?
- Mais ou menos... Me desentendi com eles faz alguns dias.

Não achei interessante na ocasião dizer à ela que foi com eles, no dia da discussão, que havia conseguido o número da Cherry.

- Humm... ei, queria te perguntar uma coisa... Posso? – Disse a garota.
- Uhum..
- Esse suéter que eu estou usando estava lá na sua casa, e não acho que seja seu... alguém mora com você?
- Morava... minha ex-namorada morava lá comigo. Saiu de lá faz pouco mais de um mês.
- Brigaram?
- Talvez você saiba mais sobre o que aconteceu do que eu. Um dia ela simplesmente foi embora.

Gostaria que isso que disse à ela fosse um desvio ou uma mentira. Não era. Realmente a Sarah foi embora sem dizer coisa alguma.

- Puxa... – Disse a garota meio sem jeito. - Ei, é ali! Chegamos...

Estacionei o carro e saímos. Antes de andarmos, ela ficou na minha frente e começou a rir.

- Ei... O que foi?
- Sabe o mais engraçado... sobre isso de não nos conhecermos?
- O que?
- Você ainda não me disse o seu nome!

Devo ter ficado de boca aberta, em formato de O, por uns 5 segundos. Então nós dois começamos a rir.

- Isso é perigoso, Sophia! – Falei, me referindo ao ‘trabalho’ dela.
- Engraçadinho.
- Bom... meu nome é Dan.
- Puxa, você não tem cara de Dan! – Disse minha engraçada companhia, e quase respondi obrigado. Ela franziu o cenho de um jeito engraçado, analisando o meu rosto e tentando encaixar meu nome à minha face – Bom, prazer Dan! - Disse conformada e me estendeu a mão.

A cumprimentei e sorrimos um para o outro. Um sorriso mútuo, agora entre conhecidos.

Então Sophia enganchou no meu braço e fomos em direção ao prédio.