Yu - "Infância"

segunda-feira, 28 de março de 2011
Andamos pela gigante viela, de mãos dadas para não nos perdermos um do outro. Uma multidão surge em nossa frente e acabam nos empurrando, fazendo soltarmos nossas mãos.

- Dante! Cadê você?? - Diz a pequena Yu, o que no fim acabou sendo só um vulto por entre as pernas de pessoas andando pra lá e pra cá.
- Estou aqui! Yu? Me dá sua mão - Grito enquanto tento empurrar as pessoas buscando a pequena mão de minha irmã. Sigo agachado ao ver um espaço e finalmente consigo alcançá-la. - Pronto!
- Nunca mais me solte! - Diz Yu nervosa, mas são e salva.
- Desculpa... Prometo que vou ter mais cuidado, está bem?
- Uhum.

Peguei pela sua mão e seguimos com mais cuidado, até chegamos à grande fonte que inicia as quatro grande vielas que formam uma cruz, dando nome à cidade. Seguimos para a outra viela e avistamos quatro homens, usando vestimentas reais. Guerreiros.

- Irmão, quem são eles? - Diz Yu puxando o meu braço.
- São Guerreiros do reino. Na verdade, são guerreiros especiais de Talluh.
- Por que especiais?
- Não sei direito... Dizem que eles seguem ordens diretas do Rei.
- O que será que fazem aqui na cidade?
- Não sei... não deve ser nada - Minto, pois acredito que deve ser algo bem importante.
- Ahn... As espadas deles são bonitas!! Será que eu vou ter uma um dia?
- Haha... Espero que não, irmã.
- Por que?

Não há resposta para essa pergunta que ela pudesse de fato compreender. Não é hora dela saber que nosso pai fazia parte desse grupo especial e que acabou morrendo em missão.

- Porque você é uma pequena garotinha ruiva, oras! - Digo, brincando.
- Você tem só doze anos! Um dia eu não vou ser mais pequena, irmão...
- Mas pense bem, quando você for atacar um urso com a sua espada você vai gritar "Yuu!" como quando não sabia falar? Ha ha..
- Você sabe que eu não gosto que você me chame assim! Não é o meu nome!!
- Agora já é tarde, me acostumei. E pense bem, se só eu te chamar assim é a maneira de você saber que você é especial pra mim!
- Ah, pare! - Diz e me dá um soco no ombro, da ponta dos pés.
- Ei ei! Guarde sua energia para os ursos. Bom, vamos logo para casa que está anoitecendo. Temos que passar na dona Anna antes de voltar.

~

Mais tarde.

Voltamos para casa, com um pacote de mantimentos que nossa mãe pediu e alguns doces que Yu implorou para pegarmos. Ela voltava comendo com tanta concentração que nem ouvia o que eu falava.

Chegamos em nossa simples casa e sinto algo estranho no momento que piso porta adentro. Silêncio completo.

- Yu, espere aqui - Digo, e ela fica parada sem entender.

Sigo com cuidado e devagar pela casa buscando nossa mãe. A cada passo que dou, uma angústia premonitiva me domina aos poucos. Entro no seu quarto e me deparo com seu corpo em cima da cama, coberto de sangue.

Nada, é o que sinto.

- Dante!! - Ouço Yu gritar e saio correndo ao seu encontro.

Chego na sala e Yu vem em minha direção chorando, apontando para a porta. Vejo sombras se aproximando e tomando forma.

São os quatro guerreiros reais que vimos na fonte mais cedo. Entram pela porta. Um deles limpa sua espada banhada em sangue. Sangue de nossa mãe.

- Garoto, saia da frente. Viemos buscar a ruiva. Não faça nada estúpido e deixamos você viver - Disse o homem de vestimentas escuras.
- Seus desgraçados!! Vão embora!!

Yu está congelada atrás de mim, segurando na minha camisa.

- Nos entregue-a e saia da frente garoto, senão você vai se juntar à sua mãe logo. - Todos riem alto.

Não penso. Na verdade, só penso em Yu. Corro, agarro uma garrafa em cima da mesa, pego impulso em uma cadeira e salto, quebrando-a com toda a força no rosto do guerreiro. Caio em cima dele.

- Garoto desgraçado!! - Diz o guerreiro ensanguentado que me empurra, se levanta e pega sua espada.

Levanto e vou de volta ao encontro de Yu, para protegê-la.

- Vão embora! - Grito, na frente de Yu, entre ela e os guerreiros.
- Saia da frente, garoto idiota! - Diz o guerreiro, e desfere com sua espada um golpe certeiro no meu peito, me jogando contra a mesa.

A dor é insuportável, diante tamanho ferimento. Mal tenho forças para me mexer, quiçá para me levantar. Só penso em Yu, que vem ao meu encontro desesperada.

- Irmão!! - Diz a pequena ruiva em cima de mim.
- Garota, agora venha comigo. - Diz o guerreiro se aproximando.

Me assusto com o que vejo. Yu fecha os olhos por um momento e fica praticamente desacordada. Os reabre, com uma feição que nunca havia visto antes. Seus olhos ficam acinzentados, e ela, totalmente apática. Se vira aos guerreiros. O que vinha em sua direção pára, sem compreender.

Sinto algo frio e escuro em torno dela. Como se a abraçasse. Vejo ela flutuar - como se fizesse parte de um outro corpo maior que o seu - e asas escuras feitas de sombras surgirem em suas costas. Os guerreiros recuam. Yu grita e parte com velocidade e selvageria para o guerreiro, empalando-o na altura do coração, com sua garra escura do outro corpo que a envolvia, feito de sombras.

Os outros guerreiros saem da casa assustados. Yu solta o corpo do guerreiro morto e vai atrás dos outros, quebrando parte da porta pela sua força e seu corpo maior. Consigo ouvir lá fora o barulho dos gritos.

Cessam. Silêncio novamente. E muita dor.

Fecho os olhos por alguns instantes e consigo os reabrir. Vejo Yu em minha frente, envolta pelas sombras. Me olha estática, com seu rosto sem feição e seus olhos acinzentados. De repente, as sombras se dissipam e ela cai desacordada no chão.

Olho na porta e vejo um homem com sua mão levantada na direção de Yu, em uma luva escura envolta num brilho roxo. Ele é diferente dos guerreiros que estavam aqui antes. Só consigo ver que usa uma máscara branca e tem grandes cabelos castanhos.

- Você é mesmo a criança especial, garota. - Diz ao se aproximar e pegar Yu nos braços.

Vai em direção à porta, levando minha irmã.

- Yu... - Digo quase sem forças, enquanto a
dor cessa e fico entorpecido.

O homem vira-se em minha direção e diz:

- Sive deus sive dea.

Tudo fica escuro.