Yu - "Espadas"

sexta-feira, 13 de maio de 2011
Já estamos à mais de dois dias nessas ruínas sufocantes. Precisávamos treinar um pouco nossas habilidades e caçar algumas recompensas que os mercenários evitam por ter que adentrar aqui. Inúmeros labirintos e criaturas que ficam mais fortes a cada nível que passamos.

- Esse lugar já está me entediando – Diz Yu.
- A mim também. Mas veja bem, assim eu posso melhorar minhas habilidades com o arco e você pode melhorar a sua magia.
- Você fala isso porque não sabe usar magia. Isso cansa pra diabo.
- Somos jovens, parceira! E ainda temos poções – Respondi, referindo-me às poções que trazem de volta as forças mágicas, que são um mistério para mim.
- Mas não temos mais vinho. Não consigo tomar essas poções sem misturar, são horríveis.
- Isso um dia vai te matar – Respondo, com ar de reprovação.

Ouvimos barulhos à nossa volta e nos deparamos com os corpos apodrecidos que havíamos visto minutos atrás. Só que agora estão de pé, andando com dificuldades e sem vida, movidos por algo frio. Esperaram nós chegarmos num lugar onde eles estivessem mais numerosos para atacar.

- Que ótimo, mais zumbis. Odeio desperdiçar minha magia neles – Diz Yu.

Ela pega seu cajado nas costas e o segura com uma mão. Com a outra, estende a palma em volta da grande pedra mágica que fica na sua ponta, sem encostá-la, que vagarosamente se ilumina.

- Você tem energia suficiente? – Pergunto, ao largar nosso saco de mantimentos no chão e a pegar meu arco nas costas e logo depois uma flecha.
- Não sei, enquanto isso me cubra.

Aceno com a cabeça e olho na nossa volta. Eles se aproximam em grupos de três ou quatro, por cada uma das seis passagens que dão acesso ao nosso recinto.

Lanço a primeira flecha no zumbi que está mais perto, buscando acertar sua cabeça ou seu peito. Não tenho muita habilidade ainda com arcos mas consigo uma flechada certeira no crânio da criatura, que cai sem “vida” no chão.

- Boa! Agora acerte mais trinta dessas que eu vou dormir aqui um pouco enquanto isso – Diz Yu, sarcasticamente.

Resolvo não a responder, e sim me concentrar nos zumbis. É fato que são numerosos e que Yu talvez não tenha energia à tempo para me ajudar a acabar com eles. Eu conseguiria sem problemas matar a todos se não tivesse que protegê-la também, pois está vulnerável enquanto tenta se concentrar.

Vou lançando flecha a flecha, sempre buscando acertar a criatura mais próxima.

Vejo que duas se aproximam de nossas costas.

- Yu, abaixa! – Digo, e lanço duas flechas seguidas e certeiras nas duas cabeças.

Ela é teimosa pra dizer “obrigada”, portanto só pisca pra mim com o olho direito num sorriso maldoso.

Depois de mais algumas flechas vejo que as criaturas vão diminuindo, mas estão mais próximas. Busco flechas nas minhas costas e vejo que estão acabando. Yu vê e faz um sinal de reprovação.

- Você deveria ter ficado com aquela lança, estava ficando bom com ela. Não entendo por que você sempre troca de arma quando está começando a dominar alguma – Diz Yu.
- Gosto da ideia de dominar várias armas. Isso me dá bastante vantagem, já que não posso usar magia.

Busco mais flechas e vejo que só restam três. E há ainda uns seis zumbis.

- Lou, cuidado! Ali em cima!

Olho acima e vejo um zumbi que estava em um piso superior, que encontrou espaço num buraco para o nosso para nos surpreender. Ele salta em minha direção, não me dando tempo para buscar uma flecha. Me derruba e segura com uma mão no meu cabelo e com a outra tenta cravar suas unhas afiadas no meu pescoço. Consigo segurar o seu braço podre mas tenho dificuldades para me livrar dele.

- Chega, não tenho tempo pra isso – Diz Yu.

Ela larga seu cajado e corre em minha direção, desferindo um forte chute no pescoço do zumbi, com a sua bota pesada. A criatura cai sem vida ao chão.

- Obrigado. Achei que você tinha dormido mesmo – Digo, ao pegar na sua mão para me apoiar e levantar.
- Você que não deu conta dele – Responde Yu.

Restam seis zumbis.

- Tenho três flechas. Você dá conta daqueles três? – Pergunto.
- Dou conta dos seis, mas você ficaria bravo – Diz, ao rir maldosamente.

Ficamos de costas um ao outro, e de frente para os dois grupos de três zumbis. Busco a primeira flecha e lanço-a no peito do primeiro, que trepida e cai ao chão. Ao pegar a segunda flecha sinto Yu ir na direção do seu grupo de criaturas. Me preocupo, mas preciso confiar nela.

Lanço a segunda flecha em direção ao peito de outro zumbi, mas acabo acertando perto do ombro. Por sorte, ele acaba por cair desacordado.

Ouço atrás de mim o barulho de ossos sendo quebrados. Fico preocupado e olho para trás. Vejo Yu utilizando o crânio de um zumbi para quebrar o crânio do outro. Me tranquilizo um pouco.

Olho à frente novamente e, por fim, busco a terceira flecha e lanço-a na última criatura.

Erro, por alguns centímetros. Minha inexperiência, ironicamente, me pegou na última flecha.

Sem muita escolha, parto na direção da criatura com a intenção de utilizar o arco como uma arma de combate próximo. Ele é feito de uma madeira forte e relativamente pesada, mas não com esse propósito. Porém, tenho experiência o suficiente com lanças e bastões para saber que consigo utilizá-lo dessa forma sem quebrá-lo.

Lembrando dos golpes que utilizava com bastões há alguns anos, acerto um golpe da esquerda para a direita no rosto da criatura para desnorteá-la, e depois aproveito o formato curvado da ponta do arco para enganchar na sua perna e derrubá-lo.

Com a criatura no chão à minha mercê, utilizo a outra ponta do arco para atravessar seu crânio.

Quando pondero em pensar “acabou”, ouço um barulho atrás de mim. Consigo sentir aquele cheiro podre se aproximando rapidamente, com suas unhas à centímetros de mim buscando meu pescoço. Fui pêgo – penso – pelo zumbi no qual acertei uma flecha no ombro, e achei que tinha perecido.

Não há tempo de reagir. Só fecho os olhos.

E ouço o barulho do ar sendo rasgado e um baque logo atrás de mim. A mão do zumbi estava tão próxima que acabou deslizando no meu pescoço e descendo pelas minhas costas.

Me viro e vejo o zumbi sem vida, empalado pela mão de Yu na altura do coração. Olho-a por trás dele e sinto um frio intenso, mas passageiro. Uma sensação ruim.

Yu larga o corpo da criatura no chão.

- Obrigado Yu, você me salvou – Agradeço.
- Não me agradeça, só tome mais cuidado Lou... – Responde, e fica observando sua mão suja por um tempo, com certa confusão.
- Você é muito forte e rápida, parceira. Já lhe disse que deveria usar espadas.

Yu olha para o lado com uma feição de desprezo e raiva. Vai em direção ao seu cajado que havia largado ao chão. Pega-o, e fica por um tempo de costas para mim.

- Eu odeio espadas. Nunca colocarei a mão em uma.

Yu - "Inocência"

domingo, 10 de abril de 2011
Esse conto é uma homenagem do Blog Noogênese e do autor, às crianças da Escola de Realengo, no RJ; Vítimas de um Monstro

In Memoriam

~

Paramos em frente à grande muralha invisível que delimita as fronteiras de Lunna, a grande floresta, território dos Elven.

- É aqui então... – Diz Yu, olhando a fileira de árvores que dá início à floresta densa.
- Ele disse que sim. Só não sei se deveríamos confiar nele – Digo, me referindo ao Sem Nome.
- É o melhor que temos. E algo me diz que ele não mentiu.
- Yu, ele quase nos matou – Digo e olho em sua perna machucada, depois em meu braço enfaixado com um pano vermelho. – Ainda não entendi nem porque ele nos ajudou depois de tudo.
- Não importa. Não agora – Diz minha parceira.

Me dou conta que minha falta de sentimentos mais uma vez me impediu de reparar nos dela e no que significava estarmos ali.

- Certo, vamos – Digo e pego na sua mão. Ela segura forte na minha e sorri gentilmente.

~

Andamos por mais de um dia floresta adentro. Estranhamente, encontramos poucos perigos. No fim, só algumas criaturas com fome.

- Isso está estranho – Diz Yu.
- Sim. Achei que seria mais perigoso. Pelo menos temos mais liberdade para procurá-lo.

Seguimos adiante e paramos. Senti uma presença estranha por perto e fiz um sinal para Yu parar de andar. Nos olhamos e prestamos atenção no silêncio total do ambiente. De repente, pudemos ouvir um extenso assovio que soava e ecoava na floresta como o belo canto de um pássaro.

- Tem um Elven por perto – Digo e Yu balança a cabeça positivamente.

Anos atrás vivemos por um tempo com uma tribo de Elven, em outro lugar. Esse assovio é o sinal que usam para chamar ou procurar uns aos outros à grandes distâncias.

- Vamos procurar ele – Diz Yu e não entendo -. Algo me diz que deveríamos e que ele não está querendo nos fazer mal – Explica antes de eu falar algo.

Confio nos seus instintos e a sigo. À frente ouvimos novamente o assovio, e nos guiamos pela sua direção. Continuamos andando e o assovio soa mais próximo, até que cessa repentinamente ao ouvir o barulho que fizemos pisando nas folhas que cobrem o chão.

- Quem está aí? – Diz uma voz bonita e calma, mesmo ao falar alto, do Elven que esperávamos encontrar.

Prosseguimos com calma para ele não achar que somos uma ameaça e o encontramos. Ele é alto, com pele clara nos tons da floresta e tem cabelos claros e orelhas com as pontas maiores do que a dos homens, como todos da sua raça. Segura um bonito arco e flechas de pontas afiadas como uma lança, feito das árvores de maior qualidade da floresta, que homens sequer podem encostar.

- Olá – Digo com as duas palmas das mãos levantadas. Yu segue do meu lado sem segurar no cabo de sua espada, sinalizando que não quer lutar.

O Elven olha bem para nós dois e guarda o arco em suas costas.

- Quem são vocês? – Diz.
- Estamos procurando um assassino de crianças que se esconde em Lunna – Yu diz, sendo direta como sempre é.

O Elven se surpreende e fica de boca aberta olhando para nós. Em seguida olha para o chão por um tempo.

- Eu também estou – Diz e nos surpreende: – Ele sequestrou a minha filha.
- Como?? – Diz Yu exaltada.
- Ele conseguiu entrar no nosso vilarejo durante a noite e levou a minha filha – Diz e levanta a cabeça, olhando por entre os feixes de luz que rasgam por entre as folhas das árvores.
- E como ele conseguiu fazer isso? – Indago – Vocês conseguem perceber uma ameaça na floresta de longe.
- Não sabemos ainda como.
- E o resto da tribo? – Pergunta Yu.
- Se recusaram a me ajudar – Diz e nos surpreende novamente. – Como ninguém viu, todos a consideram somente desaparecida. Como esse monstro tem causado muitos problemas no seu reino dos homens, o povo da floresta não quer interferir.

Yu se exalta.

- Tolos! Como podem virar as costas à sua raça??

O Elven desvia o olhar.

- Tudo pelo bem do povo da floresta – Digo e o Elven olha para mim e balança a cabeça positivamente.
- O máximo que fizeram por mim foi me deixar ir atrás de minha filha por minha conta – Diz o Elven.

Ficamos por um tempo em silêncio.

- Como é o seu nome? – Pergunto.
- Nahky... – Responde o Elven.
- Eu me chamo Louis e ela é a Yu... Bem, Nahky, o que acha de o procurarmos juntos?

Nahky nos olha e o vejo ponderar suas lições que aprendeu sobre não confiar nos homens.

- Obrigado – Diz, ao se dar conta que lições mais recentes o fizeram ponderar sobre a confiança em sua própria raça.

Seguimos, em busca do monstro.

~

Andamos por mais um dia e meio na imensidão da floresta, quase todo o tempo em completo silêncio. Yu e eu somos acostumados a muitas vezes andar por muito tempo sem dizer nada. O silêncio que criamos muitas vezes é confortante, e não agressivo; O conforto que sentimos na presença um do outro é algo inexplicável.

Nahky é um Elven diferente de outros que já vimos. Em tão pouco tempo nos sentimos seguros na presença dele, tanto que o confiamos a vigília por um tempo na última noite enquanto dormíamos, pois estávamos esgotados do nosso último combate e a sua raça pode ficar dias sem dormir.

- Vocês conhecem alguns segredos da floresta – Diz Nahky, quebrando o silêncio.
- Sim, vivemos por um tempo com uma outra tribo Elven – Respondo.
- Qual tribo?
- Os Lann.

O nosso companheiro Elven fica surpreso.

- Curioso o fato de os terem recebido bem entre eles – Diz o Elven.
- Não foi exatamente assim... – Interrompe Yu.

Nahky se prepara para dizer algo e subitamente pára. Ele sente algo. Eu também sinto. Yu, por sua vez, nos olha com certa confusão. Nahky, rapidamente e sem dizer nada, parte em direção à fonte do pressentimento, e o seguimos confiando nos seus instintos.

Chegamos em uma pequena clareira, um lugar mais aberto e com menos árvores.

À frente vejo uma criança Elven jogada ao chão.

Na sua frente, de costas para nós, uma criatura levantada diante sua vítima à mercê. Se parece com um urso, pelo tamanho e pela pelagem do seu corpo.

Yu, ao ver aquela imagem, fica estática como à muito - muito - tempo eu não via.

Nahky corre e salta com precisão em direção à um galho de uma árvore. Com uma coordenação impressionante, se impulsiona no galho e pega seu arco e uma flecha em suas costas, à tempo exato de encontrar o momento em que seu corpo paira inerte no ar com o ângulo perfeito para poder lançar com precisão uma flecha na criatura.

A criatura percebe o ataque e salta para trás, sem conseguir evitar que a flecha raspasse no seu rosto.

Estranhamos a maneira com que a criatura saltou, se jogando de costas e impulsionando outro salto com seus braços de forma a cair perfeitamente de pé. Sua agilidade certamente não era a de um urso.

Nahky chega ao chão e corre em direção à criança.

- Nadja! – Diz e checa se sua filha ainda vive.
- Nahppa... – Diz a criança fraca e machucada, mas viva.

Finalmente conseguimos ver o que era de fato o monstro.

Era um homem.

Um homem selvagem que vestia a pele de um urso tal como um manto, cobrindo a parte de trás do seu corpo e a parte de cima da cabeça com a pele da cabeça do animal.

- Enfim um Nnah que se importa com o seu próximo – Diz a o homem selvagem, e eu vou em direção à Nahky e sua filha.

O Elven olha com uma raiva não convencional à sua raça e lança outra flecha na criatura. Ela desvia e logo que olha à frente novamente vê o Elven desferindo um golpe utilizando a lâmina afiada do seu arco como uma lança. A criatura recua sem ter se afetado pelo golpe e se afasta evitando os golpes que sequem sem parar em meio à selvageria do Elven. Nahky enfim acerta-o impulsionado um golpe certeiro de baixo pra cima no seu peito, jogando-o para trás tal qual foi quando levou a primeira flecha.

Nahky percebe que a criatura vai cair no chão e salta em sua direção, com a intenção de utilizar a lâmina do seu arco para empalar o monstro mortalmente. A criatura surpreende-nos e consegue pegar impulso e equilíbrio com suas pernas ao chão, e mergulha para cima com um golpe com suas duas garras afiadas no peito do Elven, pêgo desprevenido e lançado bruscamente em direção à uma árvore. Esse ataque é único, pois consigo sentir a energia que ele usou para tal.

Olho para Yu para pedir ajuda e vejo que ela continua estática. Pego Nadja nos braços e vou na direção de Nahky para checar o seu estado. Não estava muito bem, o ferimento que preenche todo o seu peito é feio, mas não mortal.

Deixo os dois no chão e coloco minha garra negra, pronto para enfrentar sozinho o monstro, ainda com meu braço machucado pela luta anterior.

- Lou, espere. – Diz Yu.

Ela saiu do transe e vem na nossa direção.

- Proteja Nahky e Nadja, deixe-me enfrentá-lo – Diz e eu a olho pronto para discutir – Por favor, Lou – Suplica Yu.

Pondero e acabo aceitando a situação, sem muita escolha. Pego Nadja nos meus braços levo-a até uma árvore próxima para encostá-la; e volto e trago Nahky com certa dificuldade pelo meu braço machucado e os reúno, afastados de Yu e o monstro.

Yu olha fixamente para a criatura.

- Por que? Por que as crianças? – Pergunta.

O homem selvagem gargalha.

- Esse mundo é podre mulher Ha-ha-ha... Estou fazendo um favor à elas. Estou preservando sua inocência antes que elas sejam corrompidas pelo mundo.
- Você não tem o direito de fazer isso – Responde.
- E que direito os homens têm de criar sua prole para a guerra? E por vezes, em nome de guerras aos deuses – Diz o monstro, e Yu dessa vez não responde.
- E os Elven, o que eles têm a ver com isso? – Digo, interrompendo-o.
- Os Elven são tão podres quanto os homens. Viram as costas para sua própria raça, por medo de sair da sua floresta feliz e se envolver com os homens e o resto do mundo. Peguei essa criança só para ver o que eles fariam. Não me surpreendi, o resto dos Nnah fizeram nada.
- Chega – Diz Yu.

Ela pega sua espada prateada na sua cintura. Os feixes de luz que transpassam as árvores rebatem nas escrituras gravadas na lâmina.

- A inocência das crianças – Prossegue – São a única chance que temos de salvar nosso mundo. Não importa qual a raça; Ao arrancar a vida de uma criança, você destrói tudo o que ela poderia ser; Um herói ou um vilão; Um homem ou um monstro. Destrói todos os seus sonhos, e tudo que ela poderia fazer pelo mundo.

O homem selvagem vestindo pelo de urso não responde.

- Você vai morrer agora - Yu diz suas últimas palavras ali.

Ela corre segurando com as duas mãos a sua espada; O monstro não recua, e sim vem em sua direção, e salta com suas garras prontas para atacá-la. Yu vira a lâmina em sua direção e usa uma técnica antiga para emitir um brilho intenso para desorientar a criatura, que se perde no seu salto e acaba encontrando um golpe certeiro no seu peito, de baixo para cima, no mesmo lugar onde Nahky havia o atacado. Ela não diz nada, mas eu sei que esse golpe foi por ele.

A criatura cai ao chão e emite um grito alto e doloroso.

Yu olha-o de forma apática, e caminha em sua direção para dar um fim em sua vida. Inesperadamente, a criatura agilmente salta do chão em sua direção, utilizando um golpe com sua garra.

Yu salta para trás, mas não consegue evitar que sua perna já machucada seja atingida. Ela cai ao chão segurando o ferimento aberto em sua perna.

Não grita nem chora. Nunca o fez.

- Yu! – Grito e me preparo para ir ajudá-la.
- Não! – Diz Yu, me olhando com uma expressão de raiva.

Volto o olhar à criatura e a vejo ficar de pé com dificuldades, pois o seu ferimento foi quase mortal.

- Você é forte, mulher. E já que gosta tanto dessas crianças, vai se juntar à elas agora – Diz o monstro.

Ele se agacha, e põe suas duas garras ao chão. Consigo sentir a energia ali, tal qual foi quando atacou Nahky.

Yu se levanta com dificuldades também, pelo ferimento da sua perna. Levanta a sua espada e passa a mão nas escrituras de sua lâmina prateada, sussurrando palavras de uma língua ancestral.

O monstro salta com uma velocidade tão grande que podemos ouvir o som do vento sendo rasgado. Yu segura a espada, e salta também em sua direção impulsionada somente por uma perna.

Sua espada emite um brilho tão intenso que cega à todos nós.

Só ouço Yu gritar.

E o som magistral de um trovão que ecoa em toda a floresta.

~

Demoro algum tempo para recobrar meus sentidos, e minha visão ainda está embaçada. Só ouço o barulho de algo sendo cortado. Me levanto e enquanto minha visão volta ao normal vejo Yu arremessando pedaços do monstro e os decepando com golpes de espada.

Deixo Nahky e Nadja, desacordados, e vou na direção de Yu.

Depois de mais três golpes, ela cessa.

Chego ao seu lado, olho à frente e me deparo com o monstro despedaçado ao redor. Yu se rende à dor na sua perna e desaba ajoelhada ao chão... Me agacho do seu lado para segurá-la e pela primeira vez em todos esses anos, a vejo chorar. Ela se abraça em mim e apóia sua cabeça em meu ombro, soluçando em meio às lágrimas.

Olho à frente novamente os pedaços do monstro.

Nem preciso contá-los.

Sei que são trinta.

Yu - "Infância"

segunda-feira, 28 de março de 2011
Andamos pela gigante viela, de mãos dadas para não nos perdermos um do outro. Uma multidão surge em nossa frente e acabam nos empurrando, fazendo soltarmos nossas mãos.

- Dante! Cadê você?? - Diz a pequena Yu, o que no fim acabou sendo só um vulto por entre as pernas de pessoas andando pra lá e pra cá.
- Estou aqui! Yu? Me dá sua mão - Grito enquanto tento empurrar as pessoas buscando a pequena mão de minha irmã. Sigo agachado ao ver um espaço e finalmente consigo alcançá-la. - Pronto!
- Nunca mais me solte! - Diz Yu nervosa, mas são e salva.
- Desculpa... Prometo que vou ter mais cuidado, está bem?
- Uhum.

Peguei pela sua mão e seguimos com mais cuidado, até chegamos à grande fonte que inicia as quatro grande vielas que formam uma cruz, dando nome à cidade. Seguimos para a outra viela e avistamos quatro homens, usando vestimentas reais. Guerreiros.

- Irmão, quem são eles? - Diz Yu puxando o meu braço.
- São Guerreiros do reino. Na verdade, são guerreiros especiais de Talluh.
- Por que especiais?
- Não sei direito... Dizem que eles seguem ordens diretas do Rei.
- O que será que fazem aqui na cidade?
- Não sei... não deve ser nada - Minto, pois acredito que deve ser algo bem importante.
- Ahn... As espadas deles são bonitas!! Será que eu vou ter uma um dia?
- Haha... Espero que não, irmã.
- Por que?

Não há resposta para essa pergunta que ela pudesse de fato compreender. Não é hora dela saber que nosso pai fazia parte desse grupo especial e que acabou morrendo em missão.

- Porque você é uma pequena garotinha ruiva, oras! - Digo, brincando.
- Você tem só doze anos! Um dia eu não vou ser mais pequena, irmão...
- Mas pense bem, quando você for atacar um urso com a sua espada você vai gritar "Yuu!" como quando não sabia falar? Ha ha..
- Você sabe que eu não gosto que você me chame assim! Não é o meu nome!!
- Agora já é tarde, me acostumei. E pense bem, se só eu te chamar assim é a maneira de você saber que você é especial pra mim!
- Ah, pare! - Diz e me dá um soco no ombro, da ponta dos pés.
- Ei ei! Guarde sua energia para os ursos. Bom, vamos logo para casa que está anoitecendo. Temos que passar na dona Anna antes de voltar.

~

Mais tarde.

Voltamos para casa, com um pacote de mantimentos que nossa mãe pediu e alguns doces que Yu implorou para pegarmos. Ela voltava comendo com tanta concentração que nem ouvia o que eu falava.

Chegamos em nossa simples casa e sinto algo estranho no momento que piso porta adentro. Silêncio completo.

- Yu, espere aqui - Digo, e ela fica parada sem entender.

Sigo com cuidado e devagar pela casa buscando nossa mãe. A cada passo que dou, uma angústia premonitiva me domina aos poucos. Entro no seu quarto e me deparo com seu corpo em cima da cama, coberto de sangue.

Nada, é o que sinto.

- Dante!! - Ouço Yu gritar e saio correndo ao seu encontro.

Chego na sala e Yu vem em minha direção chorando, apontando para a porta. Vejo sombras se aproximando e tomando forma.

São os quatro guerreiros reais que vimos na fonte mais cedo. Entram pela porta. Um deles limpa sua espada banhada em sangue. Sangue de nossa mãe.

- Garoto, saia da frente. Viemos buscar a ruiva. Não faça nada estúpido e deixamos você viver - Disse o homem de vestimentas escuras.
- Seus desgraçados!! Vão embora!!

Yu está congelada atrás de mim, segurando na minha camisa.

- Nos entregue-a e saia da frente garoto, senão você vai se juntar à sua mãe logo. - Todos riem alto.

Não penso. Na verdade, só penso em Yu. Corro, agarro uma garrafa em cima da mesa, pego impulso em uma cadeira e salto, quebrando-a com toda a força no rosto do guerreiro. Caio em cima dele.

- Garoto desgraçado!! - Diz o guerreiro ensanguentado que me empurra, se levanta e pega sua espada.

Levanto e vou de volta ao encontro de Yu, para protegê-la.

- Vão embora! - Grito, na frente de Yu, entre ela e os guerreiros.
- Saia da frente, garoto idiota! - Diz o guerreiro, e desfere com sua espada um golpe certeiro no meu peito, me jogando contra a mesa.

A dor é insuportável, diante tamanho ferimento. Mal tenho forças para me mexer, quiçá para me levantar. Só penso em Yu, que vem ao meu encontro desesperada.

- Irmão!! - Diz a pequena ruiva em cima de mim.
- Garota, agora venha comigo. - Diz o guerreiro se aproximando.

Me assusto com o que vejo. Yu fecha os olhos por um momento e fica praticamente desacordada. Os reabre, com uma feição que nunca havia visto antes. Seus olhos ficam acinzentados, e ela, totalmente apática. Se vira aos guerreiros. O que vinha em sua direção pára, sem compreender.

Sinto algo frio e escuro em torno dela. Como se a abraçasse. Vejo ela flutuar - como se fizesse parte de um outro corpo maior que o seu - e asas escuras feitas de sombras surgirem em suas costas. Os guerreiros recuam. Yu grita e parte com velocidade e selvageria para o guerreiro, empalando-o na altura do coração, com sua garra escura do outro corpo que a envolvia, feito de sombras.

Os outros guerreiros saem da casa assustados. Yu solta o corpo do guerreiro morto e vai atrás dos outros, quebrando parte da porta pela sua força e seu corpo maior. Consigo ouvir lá fora o barulho dos gritos.

Cessam. Silêncio novamente. E muita dor.

Fecho os olhos por alguns instantes e consigo os reabrir. Vejo Yu em minha frente, envolta pelas sombras. Me olha estática, com seu rosto sem feição e seus olhos acinzentados. De repente, as sombras se dissipam e ela cai desacordada no chão.

Olho na porta e vejo um homem com sua mão levantada na direção de Yu, em uma luva escura envolta num brilho roxo. Ele é diferente dos guerreiros que estavam aqui antes. Só consigo ver que usa uma máscara branca e tem grandes cabelos castanhos.

- Você é mesmo a criança especial, garota. - Diz ao se aproximar e pegar Yu nos braços.

Vai em direção à porta, levando minha irmã.

- Yu... - Digo quase sem forças, enquanto a
dor cessa e fico entorpecido.

O homem vira-se em minha direção e diz:

- Sive deus sive dea.

Tudo fica escuro.

Sophia - "Realidade"

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
A Universidade de Santa Martha é um local bonito e bem arborizado, uma ótima paisagem agora nesse tempo frio de inverno. Passamos por grandes passarelas bem projetadas e na beira de um bonito e extenso lago, com patos e cisnes passeando e mostrando sua indiferença ao frio maldoso que fazia.

Sophia sorria e seus olhos brilhavam vendo aquilo tudo. Tentava chegar perto dos cisnes que estavam na beira do lago para tocá-los mas ficava no empasse entre a curiosidade e o medo de ser bicada. Quando finalmente parecia ter estabelecido uma confiança entre ela e o animal e estava quase o tocando eu gritei “Boo!” e ela deu um salto e um grito que fez eco no lugar, e o cisne assustou-se e bateu suas asas na água ao se afastar, jogando água em nós.

- Dan! Isso não se faz!! – Disse e estabeleceu uma cara de emburrada.
- Ah... não aguentei, desculpa! – Respondi rindo.
- Puxa... estava quase o tocando. Bom, vai que ele ia me bicar mesmo. – Disse, conformada – Ei, vamos lá na secretaria, senão não vai dar tempo. – Disse e pegou pela minha mão, com a intenção de me guiar até o lugar, o que é bom já que eu jamais tinha vindo aqui.
- Conhece bem o lugar aqui? – Falei enquanto pegamos a passarela que ia até a construção que deveria ser a secretaria.
- Sim... eu sempre adorei vir aqui. A lanchonete que eu trabalhava fica à alguns quarteirões daqui, e quase todo dia quando saía de lá eu vinha aqui dar uma volta pra me sentir bem.
- O lugar é muito bonito, eu adorei... É uma universidade boa?
- Aham. É um sonho meu estudar aqui. Quando vinha aqui caminhar ficava vendo os estudantes andando apressados de um lado para o outro e me via ali com eles. – Disse sorrindo.
- Tomara que seja um sonho realizado agora! – Falei tentando a animar.
- Sim! Tomara mesmo! – Respondeu Sophia, sorrindo e apertando a minha mão de entusiasmo.

Entramos no lugar e eu não me surpreendi. Muitos alunos que deixaram para o último dia para fazer suas matrículas. Gente falando alto e ao mesmo tempo.

- Será que saímos daqui até o semestre acabar? – Falei.
- Relaxa Dan, deixa comigo. – Disse e me puxou pela mão para irmos na direção dos guichês. Ela olhava de atendente por atendente como se procurasse alguém, até que avistou alguém que parecia conhecer e ficou acenando até chamar a sua atenção. A atendente ficou surpresa, e depois fez um sinal para aguardarmos. Sophia sorriu e fez sinal de positivo com o dedo.
- Presumo que você conhece ela... Espertinha. – Falei
- Aham! Conheci a Maria um dia enquanto perambulava no campus. Depois disso nos víamos sempre, antes dela ir pra casa depois do expediente. Adoro ela, é uma boa amiga. Mas desde que saí da lanchonete e me mudei eu não vim mais aqui e não falei mais com ela. Estava torcendo pra ela estar trabalhando aqui ainda.

Maria logo dispensou o estudante que estava atendendo e nos chamou. Enquanto nos aproximávamos do guichê, reparei de relance em alguns estudantes com senhas na mão nos desejando infartos ou tumores malignos. Mas como a maioria deve ser filhinhos de papai que não sabem o que querem da vida eu nem me importei muito.

- Oi, linda! À quanto tempo! – Disse Maria que quase saltou por cima do balcão pra abraçar Sophia e dar um beijo no rosto.
- Desculpa por sumir e não ter avisado, Maria... – Disse Sophia com uma cara de culpada.
- Tudo bem, linda... sei que deve ter um bom motivo. E esse rapaz, garota?
- Ah sim, esqueci de apresentar, desculpa. Esse é o Dan, meu... amigo. Dan, essa é a Maria! – Disse meio sem jeito enquanto eu cumprimentava a mulher loira de uns 30 e muitos anos.
- Prazer, Maria... Sophia me falou de você.. – Disse, pois estava sem jeito e precisava jogar a bola pra alguém.
- E ela nunca me falou de você, rapaz! – Disse com um sorriso maldoso.
- É que eu conheço o Dan faz... pouco tempo. – Disse Sophia, envergonhada.

Claro. Mesmo para uma amiga que a conhece, seria estranho se dissesse que me conheceu no dia anterior sem parecer vulgar. Talvez não ajudasse se ela dissesse que foi num programa.

- Entendo... Bom, ele é bonito! Se veio aqui buscar minha aprovação tem minha benção, garota! – Disse e Sophia ficou da cor do suéter vermelho que usava.
- Maria!! Vamos mudar de assunto... Não vim aqui hoje só pra matar a saudade do seu senso de humor. – Disse tentando recuperar sua cor clara.
- Oh, o que mais então?
- Vim fazer minha matrícula! – Disse Sophia com um sorriso de satisfeita.
- Maravilha! Que ótimo, garota! – Disse Maria realmente feliz com a notícia. – Bom, vai passando a papelada então!

Enquanto elas estavam noutro mundo trocando papéis e documentos, perguntei onde podia pegar um copo de água. Apesar do frio, o lugar ali estava quente de tanta agitação das pessoas e do ar condicionado mal regulado.

- Naquele corredor ali à esquerda. – Disse e apontou Sophia. – Traz um pra mim também, Danzinho? – Disse com um sorriso grande para o qual é impossível negar qualquer coisa.
- Tá, mas só se você prometer não me chamar de Danzinho denovo. – Falei, sinceramente.
- Ops... Ok. Prometo, Danzão! – Disse e riu sadicamente.

Desisti de argumentar e fui buscar a água. Na volta, vi que as duas estavam conversando seriamente. Não quis atrapalhar e fiquei de longe observando. Sophia olhava para baixo e Maria falava seriamente olhando pra ela. Imaginei que Sophia estava falando sobre sua mais recente empreitada profissional. Quando vi que ela estava quase chorando me aproximei.

- Tudo certo aí, minha cara universitária? – Falei tentando parecer alheio à situação.
- Ah, sim.. Tudo! – Disse ao esfregar os olhos no suéter rapidamente e estender a mão para pegar a água. Seus olhos estavam vermelhos mas logo se recuperou.
- Bom, tudo certo, linda. Só falta a propina agora. – Disse Maria se referindo ao preço da matrícula.
- Ah sim. Deixa eu ver. – Disse Sophia pegando sua carteira na bolsa e a abrindo. – Cem, Cento e cinquenta, Duzentos...

De repente se deu conta de algo e ficou imóvel olhando sua carteira. Cheguei a me assustar e demorei um pouco pra assimilar o que estava acontecendo. A verdade é que ela contava com o dinheiro do programa para pagar a matrícula. Eu tinha que fazer algo.

- Ah, Sophia! – Disse a chamando a atenção pra mim – Eu estou te devendo, lembra? – Falei e ela assimilou sem nenhuma expressão no rosto. – Tome – Disse e estendi a mão com “aquele” dinheiro que ainda estava na minha carteira.
- Oh. – Disse Sophia que ficou olhando um tempo para aquelas notas. Muito deve ter se passado na cabeça dela ali. – Obrigada, Dan. – Disse e entregou o dinheiro para Maria.
- Tudo certo então! – Disse Maria ao ir guardando o dinheiro no caixa e organizando a papelada dentro da pasta. - Você começa dia 14.
- Obrigada!! – Disse Sophia para a mulher, ao quase saltar novamente para abraçá-la por cima do balcão.
- Boa sorte, garota... Vai dar tudo certo, viu? – Disse à Sophia e depois se virou e estendeu a mão à mim. – Foi um prazer conhecer você Dan. Cuida bem dessa menina viu? Senão arranco seus ovos fora. – Disse e eu acreditei na ameaça, visto o seu olhar de sociopata ao dizê-la.
- Ok... – Foi tudo o que consegui dizer ali.

Nos despedimos e saímos do prédio. Sophia pulava de felicidade como uma criança que acabou de saber que vai viajar para a Disneylândia. Eu estava feliz também, pois sabia o que aquilo significava pra ela.

Resolvemos dar uma última volta no lago antes de ir embora.

- Me diga, que curso você se matriculou? – Perguntei, ao me dar conta que realmente não sabia.
- Verdade, eu não te falei! Me matriculei em Psicologia. – Disse com um sorriso de satisfação.
- Nossa, que legal! Sempre gostei de Psicologia também...
- É... eu adoro entrar dentro da cabeça das pessoas para tentar entendê-las. Tomara que o curso seja o que eu espero.

Algo começou a vibrar na sua bolsa. Pegou o celular e ficou olhando no visor um tempo. Pude sentir sensação que ela sentiu de “voltar à realidade” ali.

- Alô? Oi Susan... É, foi mal, aconteceu umas coisas. Tá. Tá, eu ouvi, caramba! – Se exaltou e olhou pra mim, como se suplicasse para que eu pegasse pela sua mão e pulássemos no lago gelado. – Não, eu não quero mais isso, Susan. – Disse e eu pude ouvir a mulher se exaltar ao telefone. – Olha, depois conversamos, ok? Tchau.

Desligou o celular e ficou olhando para o lago por um tempo. Respeitei seu silêncio.

- Era a Susan. – Disse sem tirar os olhos do lago.
- Susan? – Indaguei, pois não lembrava desse nome.
- Ah sim. A “Cherry”. Moro com ela... Você sabe. – Disse se referindo à tudo.
- Sim, entendo... - Falei sem ter certeza do que falar. - Quer voltar pra casa?
- Sinceramente, queria nunca mais ter que voltar pra lá. – Disse e tirou os olhos do lago, e depois colocou as mãos no rosto e suspirou.

Não soube o que dizer ali. Não havia palavras que podiam vencer a força dura da realidade.

Tudo que me restava fazer era tentar mudar a realidade.

- Sophia...
- Oi. – Disse ao esfregar os olhos e olhar pra mim.
- Por que você não vem morar comigo. Sabe, até se estabilizar denovo?

Sophia ficou congelada olhando pra mim.

- Dan... Eu... – Disse quase entrando em um colapso.

Me aproximei dela e a abraçei.

- Vai dar tudo certo, viu? Eu prometo.

Sophia chorou, pela última vez. Com a cabeça encostada no meu peito, agarrava com as unhas nas minha camisa e chorava com toda a intensidade que era possível, querendo esvaziar tudo de ruim que havia dentro dela por todo aquele tempo.

Percebemos ali que, juntos, podemos transformar a realidade.