Yu - "Espadas"

sexta-feira, 13 de maio de 2011
Já estamos à mais de dois dias nessas ruínas sufocantes. Precisávamos treinar um pouco nossas habilidades e caçar algumas recompensas que os mercenários evitam por ter que adentrar aqui. Inúmeros labirintos e criaturas que ficam mais fortes a cada nível que passamos.

- Esse lugar já está me entediando – Diz Yu.
- A mim também. Mas veja bem, assim eu posso melhorar minhas habilidades com o arco e você pode melhorar a sua magia.
- Você fala isso porque não sabe usar magia. Isso cansa pra diabo.
- Somos jovens, parceira! E ainda temos poções – Respondi, referindo-me às poções que trazem de volta as forças mágicas, que são um mistério para mim.
- Mas não temos mais vinho. Não consigo tomar essas poções sem misturar, são horríveis.
- Isso um dia vai te matar – Respondo, com ar de reprovação.

Ouvimos barulhos à nossa volta e nos deparamos com os corpos apodrecidos que havíamos visto minutos atrás. Só que agora estão de pé, andando com dificuldades e sem vida, movidos por algo frio. Esperaram nós chegarmos num lugar onde eles estivessem mais numerosos para atacar.

- Que ótimo, mais zumbis. Odeio desperdiçar minha magia neles – Diz Yu.

Ela pega seu cajado nas costas e o segura com uma mão. Com a outra, estende a palma em volta da grande pedra mágica que fica na sua ponta, sem encostá-la, que vagarosamente se ilumina.

- Você tem energia suficiente? – Pergunto, ao largar nosso saco de mantimentos no chão e a pegar meu arco nas costas e logo depois uma flecha.
- Não sei, enquanto isso me cubra.

Aceno com a cabeça e olho na nossa volta. Eles se aproximam em grupos de três ou quatro, por cada uma das seis passagens que dão acesso ao nosso recinto.

Lanço a primeira flecha no zumbi que está mais perto, buscando acertar sua cabeça ou seu peito. Não tenho muita habilidade ainda com arcos mas consigo uma flechada certeira no crânio da criatura, que cai sem “vida” no chão.

- Boa! Agora acerte mais trinta dessas que eu vou dormir aqui um pouco enquanto isso – Diz Yu, sarcasticamente.

Resolvo não a responder, e sim me concentrar nos zumbis. É fato que são numerosos e que Yu talvez não tenha energia à tempo para me ajudar a acabar com eles. Eu conseguiria sem problemas matar a todos se não tivesse que protegê-la também, pois está vulnerável enquanto tenta se concentrar.

Vou lançando flecha a flecha, sempre buscando acertar a criatura mais próxima.

Vejo que duas se aproximam de nossas costas.

- Yu, abaixa! – Digo, e lanço duas flechas seguidas e certeiras nas duas cabeças.

Ela é teimosa pra dizer “obrigada”, portanto só pisca pra mim com o olho direito num sorriso maldoso.

Depois de mais algumas flechas vejo que as criaturas vão diminuindo, mas estão mais próximas. Busco flechas nas minhas costas e vejo que estão acabando. Yu vê e faz um sinal de reprovação.

- Você deveria ter ficado com aquela lança, estava ficando bom com ela. Não entendo por que você sempre troca de arma quando está começando a dominar alguma – Diz Yu.
- Gosto da ideia de dominar várias armas. Isso me dá bastante vantagem, já que não posso usar magia.

Busco mais flechas e vejo que só restam três. E há ainda uns seis zumbis.

- Lou, cuidado! Ali em cima!

Olho acima e vejo um zumbi que estava em um piso superior, que encontrou espaço num buraco para o nosso para nos surpreender. Ele salta em minha direção, não me dando tempo para buscar uma flecha. Me derruba e segura com uma mão no meu cabelo e com a outra tenta cravar suas unhas afiadas no meu pescoço. Consigo segurar o seu braço podre mas tenho dificuldades para me livrar dele.

- Chega, não tenho tempo pra isso – Diz Yu.

Ela larga seu cajado e corre em minha direção, desferindo um forte chute no pescoço do zumbi, com a sua bota pesada. A criatura cai sem vida ao chão.

- Obrigado. Achei que você tinha dormido mesmo – Digo, ao pegar na sua mão para me apoiar e levantar.
- Você que não deu conta dele – Responde Yu.

Restam seis zumbis.

- Tenho três flechas. Você dá conta daqueles três? – Pergunto.
- Dou conta dos seis, mas você ficaria bravo – Diz, ao rir maldosamente.

Ficamos de costas um ao outro, e de frente para os dois grupos de três zumbis. Busco a primeira flecha e lanço-a no peito do primeiro, que trepida e cai ao chão. Ao pegar a segunda flecha sinto Yu ir na direção do seu grupo de criaturas. Me preocupo, mas preciso confiar nela.

Lanço a segunda flecha em direção ao peito de outro zumbi, mas acabo acertando perto do ombro. Por sorte, ele acaba por cair desacordado.

Ouço atrás de mim o barulho de ossos sendo quebrados. Fico preocupado e olho para trás. Vejo Yu utilizando o crânio de um zumbi para quebrar o crânio do outro. Me tranquilizo um pouco.

Olho à frente novamente e, por fim, busco a terceira flecha e lanço-a na última criatura.

Erro, por alguns centímetros. Minha inexperiência, ironicamente, me pegou na última flecha.

Sem muita escolha, parto na direção da criatura com a intenção de utilizar o arco como uma arma de combate próximo. Ele é feito de uma madeira forte e relativamente pesada, mas não com esse propósito. Porém, tenho experiência o suficiente com lanças e bastões para saber que consigo utilizá-lo dessa forma sem quebrá-lo.

Lembrando dos golpes que utilizava com bastões há alguns anos, acerto um golpe da esquerda para a direita no rosto da criatura para desnorteá-la, e depois aproveito o formato curvado da ponta do arco para enganchar na sua perna e derrubá-lo.

Com a criatura no chão à minha mercê, utilizo a outra ponta do arco para atravessar seu crânio.

Quando pondero em pensar “acabou”, ouço um barulho atrás de mim. Consigo sentir aquele cheiro podre se aproximando rapidamente, com suas unhas à centímetros de mim buscando meu pescoço. Fui pêgo – penso – pelo zumbi no qual acertei uma flecha no ombro, e achei que tinha perecido.

Não há tempo de reagir. Só fecho os olhos.

E ouço o barulho do ar sendo rasgado e um baque logo atrás de mim. A mão do zumbi estava tão próxima que acabou deslizando no meu pescoço e descendo pelas minhas costas.

Me viro e vejo o zumbi sem vida, empalado pela mão de Yu na altura do coração. Olho-a por trás dele e sinto um frio intenso, mas passageiro. Uma sensação ruim.

Yu larga o corpo da criatura no chão.

- Obrigado Yu, você me salvou – Agradeço.
- Não me agradeça, só tome mais cuidado Lou... – Responde, e fica observando sua mão suja por um tempo, com certa confusão.
- Você é muito forte e rápida, parceira. Já lhe disse que deveria usar espadas.

Yu olha para o lado com uma feição de desprezo e raiva. Vai em direção ao seu cajado que havia largado ao chão. Pega-o, e fica por um tempo de costas para mim.

- Eu odeio espadas. Nunca colocarei a mão em uma.