Iosef - "Espada e Escudo"

domingo, 7 de março de 2010
1... 2... 3... 4... 5... 6... 7... 8... 9... 10... 11...

- Acorde.

12 badaladas.

Abri os olhos e estava envolto por escuridão, árvores e sons de criaturas noturnas. Não reconhecia esse lugar, embora o achasse familiar. Estava completamente desarmado, somente vestindo uma armadura antiga... A primeira que tive, logo quando comecei a minha vida adulta e criei um nome e uma fama às custas da realeza.

Havia algo de errado, pois eu não via essas vestimentas à 20 anos. - Elas foram completamente destruídas - Lembrei. Senti algo na minha mão. Estava segurando algo. Olhei e me deparei com um broche. Um broche que conhecia muito bem.

- Ilana!! - Gritei.

Comecei a correr, enquanto meu coração batia cada vez mais rápido e eu ouvia os sons das criaturas das sombras vindo em meu encontro. Tudo o que conseguia pensar era em Ilana, minha esposa. Ela me trouxe tudo de bom que conheci na vida... havia me transformado. Agora estava esperando um bebê, que viria ao mundo na próximas semanas. Nosso filho. Meu legado. Meu perdão.

Segurava cada vez mais forte o broche, tentando entender tudo isso e rezando para ser um pesadelo.

- Eu tenho que acordar!

Sentia os sons das criaturas mais próximas.

- Eu tenho que sair daqui!

Pensava na minha esposa e meu filho em perigo.

- Acorda! Acorda!

Foi quando a lua saiu de seu esconderijo em meio às nuvens no céu. O seu brilho iluminou a floresta inteira. Ouvi os sons das criaturas mudando seu rumo, agora se afastando de minha direção como se estivessem fugindo, assim como eu estava me afastando delas momentos atrás. Vi as folhas das árvores começarem a emitir uma luz, como reação ao brilho do luar. A floresta inteira começou a emanar um aroma... doce.

Deixei o broche cair de minha mão, pois não conseguia mover músculo algum. Eu agora sabia onde estava. As criaturas estavam de fato fugindo de algo. Algo que pode ameaçar qualquer homem, monstro, anjo ou demônio. Deixei de pensar que preferia que isso fosse um pesadelo. Era um pesadelo.

O brilho da lua de repente sumiu, assim como as luzes e odores da floresta. Tudo começou a sumir. Senti minhas forças indo embora, como se meu corpo desaparecesse.

~

- Abra seus olhos - Disse uma voz que parecia vir de todos os lados.

Estava em um lugar onde não se via céu nem chão. Tudo à minha volta era escuridão, alternando entre tons vermelhos e azuis.

Na minha frente havia uma plataforma redonda e grande com inscrituras que alternavam entre um brilho forte e fraco. No meio dela estava Ilana, dormindo calmamente na nossa cama, exatamente como estava quando fomos dormir essa noite.

À frente da plataforma havia um altar gigante com várias formas e símbolos estranhos gravados. Havia um trono no centro, onde sentava alguém. Era eu, vestindo a armadura negra que usei no auge de minha vida nas sombras. Eu... ou "Ele"... estava usando uma máscara branca, somente deixando à mostra os longos cabelos que eu possuía.

- Seja bem vindo à minha casa, Iosef - Disse "Ele".
- Por que você se parece comigo? - Perguntei.
- Posso responder à essa pergunta outra hora? - Indagou, com um tom de sarcasmo.

Então "Ele" mostrou algo que segurava em sua mão. Era o broche de Ilana.

- Você vai... levar ela? - Perguntei, temendo a resposta.
- Claro que não. Ela não pertence à esse lugar. - Respondeu.
- Então você vai...
- Você sabe por que está aqui agora, Iosef? - Interrompeu.
- Temo que sim.
- E por que, então?
- Julgamento.

"Ele" é uma força maior e infinita. Não se define como Bem ou Mal, nem sequer tem um nome. Nem forma. Por isso fiquei confuso com sua aparência semelhante à minha. Aqueles que acreditavam nele o chamavam de "Juiz".

De repente, tudo ficou claro.

- Meu filho!!! Você quer o meu filho!!!
- Sim, Iosef.

Senti toda a raiva que aguentava sentir e fui correr em sua direção para atacá-lo, sem pensar. Ele sumiu do altar e reapareceu à minha frente, junto à um golpe com a garra negra que usava. Que eu um dia usei. Caí longe dali, me sentindo fraco mas sem dor alguma.

- Por que!?!? Por que o meu filho!? - Perguntei, enquanto tentava me levantar.

Ele então sumiu e reapareceu ao lado da cama de Ilana.

- Perdão e esquecimento são duas coisas distintas, Iosef. Você achou que perdoando o seu passado você o apagaria. As memórias de um homem podem acabar juntamente à sua vida, mas todos os seus atos e consequências ficam gravados no mundo, no tempo e na história.
- O que você vai fazer com ele?!? - Perguntei, sentindo uma imensa raiva.
- Sua alma e seu coração serão selados. Não terá espada nem escudo. Sentirá a solidão de não fazer parte do bem nem do mal. Será uma força entre os homens assim como eu sou no universo. Neutra.

Perdi qualquer força que tivesse em mim, pois meus maiores medos tinham tomado forma. Meu filho seria o marco do perdão pelo meu passado... Mas acabou por se tornar a consequência.

Em minha vida, sentimentos ruins me fizeram caminhar nas sombras e, então, sentimentos bons me transformaram. O que será uma vida sem sentimentos? Meu filho não merecia isso.

- Mas agora você pode viver com tranquilidade, Iosef. Você está livre de suas correntes.

Ouvir isso não me fez sentir nada tranquilo. Eu só sentia angústia e medo, misturados à raiva.

- Seu filho nascerá na próxima lua cheia, à meia-noite. O marco diário entre passado e futuro - Disse.

Então, "Ele" desapareceu junto ao altar e a plataforma. Tudo o que restou foi a cama de Ilana. Fiquei parado um pouco do lado dela, olhando-a dormir e pensando em nosso filho. Ele carregaria toda a minha culpa em si e nem saberia disso. Nada faz sentido.

Deitei na cama ao lado de minha esposa, abraçando-a e acariciando sua grande barriga onde estava nosso filho. Então vi algo diferente. Uma pequena borboleta azul se aproximou, descansando na beira da cama. Me senti mais leve e vi tudo ao meu redor tomar forma quando eu acordei. Estávamos de volta no nosso quarto. Em nossa casa.

Comecei a pensar racionalmente em tudo, agora que estava acordado. Tinha que tentar fazer alguma coisa, até a próxima lua cheia. Nem que custe o meu perdão.

Por ele. Meu filho. Meu legado.

Por Louis.

5 comentários:

Mah_Lu disse...

Nossa... essa história tbm está super legal.. vc tá escrevendo muito bem.. todas elas estão ótimas.. ADORO suas histórias!
=D

Unknown disse...

gostei, e meio que vi referencias de ff4 e dr parnassus =P

continue assim

robson_182_2 disse...

Adorei essa história!!! Parabéns mais uma vez e continue escrevendo. xD

Raquel disse...

Nossa...mais o que o Iosef fez de tão mal??

Muito boa a história! Mais tem que ter continuação (ou regressão :P).

=)

Déia disse...

muito boom! lembrei do Sr dos Anéis (por causa da floresta e de quando Frodo era perseguido por Nazgûls). Continue essa história! XD

Postar um comentário