Marcus - "O Fim do Mundo"

Meu nome é Marcus. Não que isso realmente interesse, pensando na história que vou contar, porque nela sou somente o narrador. Realmente meu nome não faz diferença. Só penso que seria interessante se você soubesse o nome de quem vai contar tudo isso.

Também traz um pouco mais de credibilidade, embora eu realmente não me importe se você vai acreditar nisso ou não.

E se eu fosse contar uma história antes de tudo isso acontecer, provavelmente eu nem falasse meu nome - talvez até a contasse em terceira pessoa -. Isso porque minha existência não fazia diferença. Até então.

~

Tudo aconteceu em uma terça-feira como qualquer outra, ironizando o fato de que eu acreditava que as terças obtinham o prêmio por serem o dia mais chato de qualquer semana. Talvez elas estivessem somente esperando para se compensarem em um só dia.

Eu andava de um lado para o outro pelo centro da cidade, ouvindo rádio com meus fones de ouvido pelo meu celular, rindo das bobeiras que os humoristas do programa que ouvira falavam e observando os outros seres humanos. Eram pessoas presas como eu ao seu próprio cercadinho - feliz ou triste -; como duas garçonetes conversando e fumando do lado de fora da lanchonete; um cara grande, calvo e barbado usando terno e lendo seu jornal - mas aparentando olhar quilômetros além do papel como se ele não existisse - sentado à beira do chafariz; um pedreiro que parecia alguém legal e simples - mas com uma grande interrogação no seu rosto, algo até meio sinistro - sentado à frente da construção sozinho comendo sua marmita... Enfim, pessoas normais. Pelo menos era o que eu achava.

De repente, ouvi alguém ao fundo falando algo inaudível - por causa dos fones - enquanto algo segurava meu braço. Tirei meus fones e olhei para o lado.

- Ei moço, que horas são? - Disse uma garota bonita e de cabelo castanho que passava por mim, quase me assustando.

- Hm... 11:11 - Respondi depois de olhar no meu celular, pensando na coincidência do horário. Então ela agradeceu e se afastou.

Coloquei meus fones de volta, mas me senti inquieto por algum motivo. Não era o fato de eu simplesmente ouvir nada mais neles - somente um chiado estranho - e nem a garota bonita das horas que vira à pouco. Foi uma sensação fria de dejá-vù que fez todos os pêlos do meu corpo eriçarem.

Quando voltei os olhos às pessoas, percebi que algo estava errado mesmo e não era só minha imaginação paranóica. Um à um, todos olharam para cima, apontando com um olhar surpreso e de certa forma aterrorizados. Antes de sanar minha curiosidade, pensei se poderia ser um pássaro ou um avião ou o super-homem. Não era, infelizmente.

O céu estava laranja, em plenas onze e onze da manhã - talvez doze agora. Não havia nuvem nenhuma em toda a extensão visível do horizonte, o que me deixou mais curioso ainda se algum fenômeno climático desses com nomes estranhos pudesse explicar. Será que poderiam também explicar porque o Sol estava visivelmente vermelho e meus olhos não doíam se eu olhasse diretamente para ele? Senti a temperatura baixando grau a grau também.

Serei mentiroso se dizer que fiquei aterrorizado. Pelo contrário, senti uma agitação meio mórbida.

O Sol intensificou seu brilho vermelho mas fosco, e percebi também que havia algo estranho no ar. Literalmente. Todos que estavam em choque também reparam nisso. Havia um aroma doce envolvendo à nossa volta.

E uma a uma, todas as pessoas caíram inconscientes, mesmo as que acharam - não sei porque - que se corressem se salvariam, e que por fim acabaram tropeçando desacordadas.

Chequei o pulso de uma senhora que caiu à dois metros de mim.

Estava morta.

E eu, estava sozinho.